Traços Essenciais da Sua História
S. Paio de Oleiros pertence ao concelho de Santa Maria da Feira pelo menos desde as Invasões Francesas, com um pequeno interregno de dois anos, entre 1926 e 1928, em que esteve integrada no concelho de Espinho.
Há referências toponímicas que fazem remontar a história oleirense ao Calcolítico, designadamente os lugares da Lapa de Cima e Lapa de Baixo, a meio caminho entre os castros de Ovil e Murado, e o já desaparecido topónimo Mamoa, constante do Foral Novo de D. Manuel I, de 1514. Outros reportar-se-ão à época da Romanização, como Vila Boa e Estrada.
No entanto, a primeira menção documental que é feita a Oleiros, sob a forma tabeliónica em latim bárbaro, é a de “uilla de olleirolos” num inventário, datado de 1050, anterior, portanto, ao tratado de Zamora e à independência nacional. Trata-se de uma relação de bens pertencentes ao rico-homem Gonçalo Viegas e a sua esposa, D. Flâmula (Doc. N.º 378 dos Diplomata et Chartae, do Mosteiro de Pedroso).
O topónimo Oleiros ter-lhe-á advindo, segundo a tradição, corroborada por vários autores, da suposta proliferação de oleiros na região e da abundância de barro, se tivermos em conta dados da toponímia local, como, por exemplo, os lugares da Concharinha, Serra Morena ou Barredas.
A escolha do jovem martirizado pelos Muçulmanos em 925 – S. Paio (contração de Pelágio) – para orago da paróquia deverá remontar ao tempo dos moçárabes que, segundo António Mattoso, lhe prestaram grande devoção. Seja como for, já no Censual do Cabido da Sé do Porto, datado de 1200, a igreja paroquial vem designada como Ecclesia Santi Pelagij de Oleyros. Em 1288, nas Inquirições de D. Dinis, a paróquia surge denominada como “parrochia Sancti Pelagii de Oleyros” e, na respetiva sentença, já como “Sam Paayo de Oleiros”.
Pelo decreto n.º 2/71, de 7 de Janeiro, a freguesia, copiando a designação secular da paróquia, passou a chamar-se definitivamente “S. Paio de Oleiros”.
A toponímia local é um verdadeiro testemunho da freguesia rural proveniente do desmantelamento que se produziu nas “vilas do Norte de Portugal” como é descrito por Alberto Sampaio nos Estudos Económicos: Agro-Velho, Aldeia, Lameiro, Eirados, Fial (com o significado de meda de feno), etc. Durante séculos, tal como elas, S. Paio de Oleiros viveu do amanho das terras e da criação do gado. “Terra fértil”, dizia Pinho Leal, “cria gado bovino que exporta para Inglaterra”.
Moinhos de água abundavam nas ribeiras locais Mas já nas “Memórias Paroquiais” de 1758 se diz que “Oleiros não só tem moinhos, mas também engenho de papel”. Era o início de outra era: em 1811, Joaquim de Sá Couto funda, no lugar do Candal, a que haveria de ser “uma das mais antigas e mais bem acreditadas fábricas de papel da Terra da Feira” (Pinho Leal), onde se fabricava papel de mortalha para tabaco e papel selado, que muitos asseveram ter sido o primeiro do país. Foram-lhe atribuídos vários prémios em exposições nacionais e internacionais.
A fábrica, destruída por um incêndio em 1854 e reedificada em 1859, tinha motor hidráulico, empregava madeira como matéria-prima e produzia dezasseis contos de réis, dando emprego a 65 operários.
Em 1855, inaugurava-se uma fábrica de fiação de algodão também premiada nacional e internacionalmente, a qual empregava 130 pessoas.
Ao advento da industrialização correspondeu uma maior afluência de gente que duas inaugurações quase simultâneas iriam incrementar: a da linha do Vale do Vouga, em 23 de Novembro de 1908 (com paragem do Rei D. Manuel II na estação desta localidade) e a do Hospital-Asilo de Nossa Senhora da Saúde, em 6 de Janeiro de 1909, facto que mereceu honras de primeira página em o “Primeiro de Janeiro” de 12 daquele mês e ano, tendo a obra decorrido das disposições testamentárias do Comendador Joaquim de Sá Couto. A revista “A Medicina Moderna “ chamou-lhe “um monumento de caridade”, por se tratar de um empreendimento de grande alcance filantrópico, destinado, de início, a servir os concelhos da Feira e de Espinho, mas cuja ação se estendeu muito para além destas fronteiras, até ao seu posterior encerramento aquando da criação do Hospital de S. Sebastião na sede do concelho.
Outro motivo de afluência, embora ocasional, e de divulgação da freguesia, continua a ser a festa em honra de Nossa Senhora da Saúde, que se realiza no mês de Agosto, pelo menos desde a construção da nova Igreja em 1885 e que foi considerada uma das maiores romarias do distrito de Aveiro, tendo mais tarde incluído também o culto a Santo António.
A primitiva igreja dataria do sec. X e estaria implantada no lugar de Vila Boa.
A Travessa da Igreja Velha atesta que, junto ao cemitério, existiu outra Igreja, não se sabe desde quando até à construção da atual pelo Padre José Ferreira de Almeida em 1885. Esta, segundo o Cónego Dr. Ferreira Pinto (Actividade Pastoral – 1950) mede 35,15 metros, a torre tem 48 metros e 3 sinos, é provida de um bom altar- mor em renascença D. João V e mais quatro altares laterais maiores e dois menores. Tem amplo coro, esmerado batistério e duas excelentes e amplas sacristias. Custou 200 contos.
S. Paio de Oleiros foi curato anual da apresentação do reitor de S. Miguel de Arcozelo, no Termo da Feira, e passou mais tarde a reitoria independente. A sua história conheceu também épocas de grandes vicissitudes, como aconteceu na sequência da peste negra, por volta de 1348, e de outras esterilidades e guerras subsequentes, que, segundo relatam as Memórias Paroquias de S. Miguel de Arcozelo, terão dizimado grande parte da população da localidade e da vizinhança: Santa Maria de Meladas foi extinta como freguesia, a reitoria de Santa Maria de Lamas ficou com apenas 3 habitantes e a Abadia de Oleiros com 5, razão pela qual as igrejas destas duas últimas paróquias foram anexadas, em 1425, à igreja de S. Miguel de Arcozelo.
(Publicação autorizada pelo autor, Anthero Monteiro)
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